Essas coisas da vida, assim sem mais... Recordando, rabiscando pensamentos, divulgando uma coisa ou outra, uma notícia qualquer. Divagando as chatices necessárias, falando besteira, rasgando seda, afogando tristezas, abanando brasa e falando de coisas alheias. Nos dias de tédio, uma página em branco. Dias de páginas em branco nem sempre é tédio. E, qual é o remédio? Ser aleatório e maciço, pois de gente quadrada e oca o mundo já está farto.











segunda-feira, 18 de abril de 2011

Lembrança de primavera


Minha saudade      [já é primavera e são 26]

Tal como seda sobre o colo,
Minha saudade pousa para a foto.

É pérola minha solidão.
Meu corpo de ostra. Numa solidão de pérola arrasta em si olhos, uma multidão, seu branco em metal.

Grita num escândalo britânico por teu seio.
Minha saudade estaciona no centro do peito, e fica ali. É pérola.

É pérola e quer cair, quer subir, quer fundir-se a ti, meu amor.


Ivanzinho

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Resumo da ópera

"Era tão gozado, era um trio elétrico, era fantasia, escola de samba na televisão
Cruz no fim do túnel, becos sem saída, e eu era a saída, melodia, meio-dia, era o que dizia:
Eu sou neguinha?"


Povo do Brasil, dou bom dia à falta do que fazer, do que comer e do que pensar.
Hoje acordei do avesso, de saco cheio da mesmice televisiva.
Corro da tv do quarto para a tv da copa ou para a do vizinho, e em terreno dos outros a notícia é a mesma: tiro, furto, torpe vingança, sangue espalhado...
Mas há também quem dê seu sangue pelo trabalho, só que há também quem goste mais de saber da sobremesa, do "samba, suor e cerveja" [que beleza hein!?].
Fecho os olhos e calo a boca, não há o que dizer. Ontem pensei até em escrever para uma certa emissora, motivada pelo assombro pessoal que, em particular, me agride o brio, o ego, o self, sei lá!
Espantei-me ao ver, em uma novela e dois seriados seguidos, fazendo papel de heroinas, mulheres que sustentam namoros com homens casados, que os fazem humilhados ao se retratarem por não estarem com elas no jantar da empresa.
E mais uma vez, sobremesa! Pois é, hoje em dia mulher pra ser moderna tem que virar sobremesa de homem casado, e Deus me livre desse fardo! Prefiro morrer no anonimato, curtindo minha pré balzaquianice muito bem acompanhada, com o MEU [sim, com este tom de possessiva mesmo] e não o dos outros.
Vem então notícias da baderna, quer dizer, governo. Vergonha!
Raramente eu converso sobre política, pouco me interesso saber.
"Ah, você precisa ser uma mulher informada, política é importante".
Qual? Política de privacidade, política da boa vizinhança, política do relacionamento?
É que tenho uma preguiça dessas coisas, sabe?
Planalto Central poderia se chamar "Centro de Diversão" ou, sucintamente, "Picadeiro", com a sua "política de pão e circo" carinhosamente destinada à pova e ao povo brasileiro.
Quanto a isso, sou rápida e certeira, anarquizo bonitinho com os meus seguidos votos nulos, muitíssimo bem empregados já que nenhuma das opções de voto me agradam. Falta de opção não é opção.
Eu digo NÃO! Muito grata pela esmola eleitoral, a minha moral não depende  dos excesssos de promessas e falta de compromisso desses palhacinhos.
Ser moderna, patriota? Ah, nem o Zé Carioca aguenta mais!
Em Disneylândia tupiniquim, quem tem bom senso é rei.

Obs: além de não ter gostado do que vi na TV eu também levantei com o pé esquerdo. Deitei do outro lado da cama essa noite, e por sinal, tive um sonho estranho, uma voz me dizia assim: "Enterre os mortos, feche os portos e cuide dos vivos."

Eu estou viva.
Alguém está vivo aí?

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Música baiana, em estado de imbecilidade

Acabei de ler no meu email:



Pagode baiano usa expressões chulas, palavrões que são reproduzidos por crianças, adolescentes e jovens, e que empobrecem a cultura e reforçam a idéia de um estado analfabeto.
Quando alguém pronuncia a palavra analfabetismo na Bahia, e se essa declaração parte de um acadêmico, branco ou da elite, parece tratar-se de racismo, discriminação e ódio.

Quando dizem que o som do berimbau é simplório, e que qualquer um pode reproduzi-lo sem maiores conhecimentos instrumentais, por possuir apenas uma corda, logo diriam, é mais um que odeia as raízes baianas, suas influências e sua cultura. Isso já ocorreu na Bahia e deu muito pano pra manga.

E quando dizem que a música baiana está cada dia pior, e que o pagode não passa de mais um sonoro palavrão multiplicado por milhares de incautos, ignaros e estúpidos, certamente repetiriam, trata-se de mais um a ver-nos como sub raça, desinformados e inconformados.

Pois é. E quando essa declaração parte de um pardo, de origem negra e indígena, e que cursou apenas o segundo grau? Aí, certamente dirão, trata-se de um oportunista, um comunicador frustrado ou de alguém que não conseguiu galgar os seus objetivos.

Pois bem, esse rodeio, meio despretensioso, mas importante, é para falar do grau de imbecilidade a que chegou a música baiana, principalmente ao pagode aqui produzido e consumido. Não falo do Axé, que apesar da mesmice, não usa palavrões nem ridiculariza a Bahia como Estado analfabeto.

Como estudei numa das escolas mais influentes da Bahia, principalmente nos anos 50 e 60, o Colégio Central, participei da coletânea poética em homenagem ao sesquicentenário da instituição, fiz teatro e poesia nas ruas de Salvador, pronunciar algumas palavras (ões) e gestos obscenos da música baiana é assinar embaixo aos que dizem da Bahia no Brasil afora, a de que é um povo mal educado, e que só gosta de balançar o bundalelê.

E vendo de perto, em algumas coberturas jornalísticas Bahia adentro, chego a interrogar-me quanto às minhas origens. E chego a duvidar que tivemos em nosso berço um Raul Seixas, um Castro Alves, um Wally Salomão, um Jorge Amado – que mesmo produzindo alguns palavrões, nunca foi um turpilóquio, e tantos outros que enalteceram e alguns que ainda enaltecem e fazem lembrar que tínhamos uma cultura.

Mas, quando vou ao Campo Grande, e ouço Caetano Veloso dizer que Xanddy é lindo e que ele é uma das novas expressões culturais da Bahia chego a duvidar que sou baiano de verdade, daquele que comeu tripa seca e farinha de rosca pra não morrer de fome. E acho Caetano uma das maiores expressões da música mundial, apesar de requentar vez ou outra alguma música que no passado foi considerada brega.

Aí me conformo e vou ouvir um pouco de Xangai, onde, entre as suas pérolas, fez o ABC do preguiçoso, que endossa a tese dos sulistas de que o baiano só é gente até o meio dia. E então o que será o baiano durante a tarde? É uma legião de trabalhadores, cujo estigma de preguiçoso foi amplamente difundido pelos meios turísticos, uma forma de falar da tranquilidade, da “maresia” e do sossego baiano.

O saudosismo aflora e me remete à década de 1980. Lá, até 1985, os shows em Salvador, no projeto verão, no Centro de Convenções da Bahia, eram bastante disputados. No palco, Gil, Caetano, Milton, Beto Guedes, Barão Vermelho e tantos outros que arrastavam multidões. Na Barra, shows com Morais Moreira, Luis Caldas e Armandinho com A Cor do Som, encantavam e lotavam a praia.

Retorno ao meu trabalho de coberturas de eventos com música baiana, e lá, estampada em minha frente, uma multidão de 20, 30 mil pessoas numa avenida. As meninas, os meninos, dançam como se tivessem sido libertados naquele instante. Mais parece um balé de zumbis, daquele extraído dos filmes de terror das décadas de 70 e 80. Ou então em um orgasmo coletivo, algo do tipo promovido César ou qualquer outro Calígula da nossa imaginação.

E em uníssono, eles repetem as frases, os refrões e fazem todo o gestual obsceno para completar o enredo empobrecedor. E o vocalista da banda grita, berra e pede para que todos ecoem aos quatros cantos; “Aponte o corno aí, diga que é corno”. E todos riem, como num circo, mas deveriam chorar ao debruçar a cabeça no travesseiro.

A grande maioria desempregada, deseducada e pobre. Desiludida pela face cruel do ensino que lhes oferecem nas escolas públicas, entregam-se aos bailes horrendos como se fossem a última ópera da vida deles. E se entregam de corpo e alma à missão.

Os maiores patrocinadores da música baiana no interior são as prefeituras, que gastam somas vultosas em festas, micaretas, aniversários e inaugurações, contratando bandas que em nada enriquecem a cultura popular, em detrimento do folclore, das raízes de cada cidade e de sua história. E lá se vão tubos e mais tubos de dinheiro público pelo ralo.

E voltam para casa sem saber um verso de Vinícios de Morais, sem ter-se envaidecido em ser brasileiro ao ouvir Pixinguinha, em ter-se delirado com os versos não menos preguiçosos de Dorival Caymi, em ter-se deleitado à sonoridade de Bethania e Gal, ou ter-se maravilhado ao som poético de Gilberto Gil. “Esses moços, pobres moços, a se soubessem o que eu sei”, disse Lupicínio Rodrigues em uma de suas canções imortalizada na voz de Gilberto Gil.

E aí vão me perguntar o que tenho feito para mudar o que já está construído. Nada. Sinto-me impotente. Apesar de radialista de profissão, jornalista por paixão, não consigo convencer ninguém do contrário. A música baiana vai continuar tocando assim durante muito tempo. Mas um dia acaba. Lutar contra o mercado é muito difícil. É uma máquina de fazer dinheiro a qualquer custo. E ninguém está preocupado com a educação, com a cultura, com o folclore. A mídia baiana enaltece, enobrece, escancara esses palavrórios como deuses. Até que duas meninas aparecem decapitadas numa esquina qualquer. De quem é a culpa?



Vanderley Soares
radialista/jornalista DRT 5892
Editor do Jornal Gazeta dos Municípios/Alagoinhas-Ba



domingo, 10 de abril de 2011

O que me faz cantar - Geraldo Azevedo


Sublime emoção ao vê-la assim. Salve os que
são da Lua, e que ela esteja sempre
crescente dentro de nós. 

O claro de estrela de luz cristalina
No arrebol ao longe anuncia
As cores do dia que está pra chegar
Um raio de sol na flor pequenina
Reflete a grandeza do seu criador
Que vem com certeza trazendo o amor

Vem amar,vem amar
Vem ver o que é bom
Vem amar,vem amar
Vem ver o mundo todo clarear

Abrindo a cortina,mostrando a paisagem
A nossa viagem não vai acabar
Que seja infinita enquanto é verdade
A realidade que me faz cantar
E na correnteza o segredo da vida
A fonte do tempo não pode secar
O seu movimento nas ondas do mar
Na chuva,no vento,no meu pensamento
Numa semente a desabrochar
A força sublime do amor,vem amar

Vem amar,vem amar
Vem ver o que é bom
Vem amar,vem amar
Vem ver o mundo todo clarear

E no fim da tarde,a lua crescente
O sol no poente já vai se deitar
Vai girando a terra,é a natureza
É tanta beleza,que me faz cantar

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Ex invidia!

Estive esses dias pensando nos padrões clássicos de comportamento, um deles é o da pessoa insatisfeita, para não dizer infeliz ou até mesmo invejosa. Os ataques de inveja são os únicos em que o agressor, se pudesse, preferia fazer o papel da vítima, uma vez que a pessoa invejada se encontra na condição desejada pelo sofredor . Usa de artifícios baixos, inconveniências, e abuso da bondade de outras pessoas como instrumento do seu prazer, como se isso compensasse a sua infelicidade. O tempo vai seguindo o seu curso, as pessoas vão passando por ele em busca do amor, da alegria, do bem estar, mas o invejoso não acompanha tal ritmo pois se encontra ocupado demais em avacalhar a vida do outro. Geralmente, são pessoas com dificuldade de aceitar a realidade, que não se desapegam das coisas que já passaram e vivem alimentando uma esperança de algo que não pode mais voltar, usando como subsídio a memória de páginas já viradas [que apenas ela não vê]. Li algo que se aplica perfeitamente a tal condição, e cabe a qualquer pessoa invejosa:

 "A vaidade e o orgulho, esses dois gigantes da imoralidade, filhos diletos do egoísmo, combinados proporcionalmente com a inveja, formam um trio de ferro corrosivo, uma espécie de três mosqueteiros às avessas. Um triunvirato repugnante e nauseabundo, espécie de tríade repulsiva e sinistra. Se nos consideramos mais merecedores do que o próximo, imaginando que seria mais “justo” que aquele objeto/pessoa fosse de nossa propriedade, essa fantasia traz consigo um ranço de origem, proporcionado pela inveja[...]
O invejoso não suporta ver um novato invadir espaços que ele, em sua santa indolência, deixou de ocupar por pura incompetência e comodismo. Se sente atingido, usurpado e se agarra, com unhas e dentes, ao espaço que ele acha que é seu e somente seu. Uma sutileza interessante, já que o homem pré-histórico, movido pelo instinto brutal, destroçava o seu algoz, a fim de se apropriar de seus pertences. O tempo passou, a evolução se processou como convém à estrutura das leis naturais, mas o princípio permanece o mesmo. O invejoso passa para o boicote, vai minando com fofocas e pequenas atitudes estrategicamente montadas, a fim de destruir a felicidade do próximo. Quer provar, ao menos para si mesmo, que o espaço é dele, e somente dele[...]" 

É muito triste a pessoa não ter objetivos, não ver em si uma razão para viver melhor. É triste a gente estar no caminho em busca da Luz, da Paz e do Amor e encontrar algumas pessoas fazendo o caminho inverso, em comunhão com sentimentos mesquinhos e querendo arrastar quem estiver por perto só para não sofrer sozinho. Eu desejo que haja mais amor dentro do coração, e não falo daquele amor "achando que sofrer é amar demais", e sim do amor próprio, do amor pelas coisas boas que existem. Sempre que noto a presença negativa da inveja rondando a minha felicidade, eu mentalizo ou até mesmo ponho em alto e bom som  uma música do Gonzaguinha, e dedico ela a todas as pessoas que agem em nome do bem e também àquelas que precisam trilhar mais por esse caminho:


Pode chegar que a festa vai é começar agora
E é prá chegar quem quiser, deixe a tristeza prá lá
E traga o seu coração, sua presença de irmão
Nós precisamos de você nesse cordão

Pode chegar que a casa é grande e é toda nossa
Vamos limpar o salão, para um desfile melhor
Vamos cuidar da harmonia, da nossa evolução
Da unidade vai nascer a nova idade
Da unidade vai nascer a novidade

E é prá chegar sabendo que a gente tem o sol na mão
E o brilho das pessoas é bem maior
Irá iluminar nossas manhãs
Vamos levar o samba com união
No pique de uma escola campeã

Não vamos deixar ninguém atrapalhar a nossa passagem
Não vamos deixar ninguém chegar com sacanagem
Vão 'bora que a hora é essa e vamos ganhar
Não vamos deixar uns e outros melar

Oô eô eá, que a festa vai apenas começar
(O homem falou) 




É isso aí, como eu sei que a inveja passou por aqui para dar uma olhadinha no que ando pensando, tenho a certeza de que o meu recado foi dado. E como eu também sei que ela ainda irá esperar de mim a reação que deseja, deixo um último suspiro, um grito de vitória sobre a pouca mentalidade, ou ainda, sobre a grande capacidade de não se bastar com o que se tem, com o que se é:

Nunca confronte com um idiota. Ele te leva ao nível dele e depois vence por experiência!