Um risco de pólvora dá vida ao pavio da lembrança e na distância do que já vivi é que mora a memória.
Em mim mora o dom de ser menina, de ser criança, junto à cisma de não deixar ir embora o pretérito das minhas cantigas.
A florida da estação me remete a outonos de outrora, tempos de ser protagonista de sonhos, narradora de emoções, dias em que reinava no mundo mágico.
Merecia até ser princesa ao fim da tarde, quando sentava sobre os joelhos para ver o sol, em despedida na moldura da janela.
No instante do agora é a aurora que me chama pelas frestas. Ainda protagonizo sonhos e narro emoções, continuo a transitar pelo mundo mágico do meu ser.
Quando em vez, espio pela janela. Não mais aquela, agora a do andar de cima. Espreito o céu de maio, crépúsculos e opúsculos, procuro os mesmos raios de sol. Procuro a mim e me acho.
Encontro em mim um espaço, o que era, o que sou.
Eis-me eu, difusa pelo vento.